terça-feira, 30 de março de 2010

Lembranças da minha estreia em NY

Caros amigos,
estou aqui, no dia seguinte a minha estreia em NYC, para tentar traduzir em palavras algumas das emoções vividas ontem. Primeiramente quero agradecer a Simone Leitão, amiga e colega maravilhosa, e o Frederico Gouveia, um produtor profisional e pessoa sempre disponivel e sensivel.
Chegar aqui, em NY, na noite antes do concerto de estreia nesta cidade não foi facil: muito cansaço, e medo que algo possa não dar certo, mas já na manha de ontem, durante o ensaio na Steinway... me acalmei bastante, pois percebí que apesar dos dois dias inteiros passados voando pelo mundo (Espanha/Brasil e Brasil/EUA) minhas condições eram boas.
Agora... a noite, tive a primeira grande surpresa em ver que o local do concerto era realmente algo especial: a "Americas Society" é uma sociedade fundada para a divulgação da cultura e arte da America latina nos EUA. O predio, antigo e elegantissimo, já foi uma casa particular da aristocracia do inicio do seculo passado: marmores, colunas, estantes de madeira, livros antigos e nas paredes as fotos de Borges, Garcia Marquez, Jorge Amado... uma atmosfera especial, intima, para uma verdadeira noite de musica de camara.
Outra surpresa: no publico, o grande escritor americano Tom Wolfe, com a esposa, e o embaixador brasileiro em New York, também com esposa.
Fiquei feliz pela recepção que as duas peças brasileiras tiveram, mas não duvidava, pois a 1 Sonata de Villa Lobos é uma graça, e a 5 de Guarnieri uma feliz descubertas para quem não conhece o mundo musical desse composidor. Alias, fiquei muito feliz em saber, apos o concerto, que algumas pessoas julgaram o segundo movimento da Sonata de Guarnieri como o ponto alto da noite. E devo dizer que é musica linda mesmo.
Na segunda parte, a famosa Sonata de Cesar Franck.
Muitos convites já para o futuro, mas a grande felicidade é saber que contribuimos em deixar preciosas lembranças musicais para aqueles que assistiram ao concerto.
Em nós musicos, fica a sensação que foi um privilegio tocar grande musica, em uma grande cidade, para um publico
maravilhoso.

segunda-feira, 29 de março de 2010

New York

Hoje, 29 de março 2010, meu primeiro recital em New York.
Daqui a poucas horas deixarei meu hotel em Manhattan, para ir no ensaio geral, na "Americas Society", com a pianista Simone Leitão. Em programa, musica brasileira (Villa-Lobos, Camargo Guarnieri e Mignone) e a Sonata de Cesar Franck.
Tocar em New York é um sonho, talvez ainda não caiu a ficha dentro da minha cabeça. Amo de paixão essa cidade, onde tradição e modernidade vivem juntos em uma harmonia perfeita. Hoje de manha, outro ensaio na Steinway, do lado da Carnegie Hall. Só entrar naquele predio, ver aquela cupula, as escadas, as colunas... só isso deixa de boca aberta; depois, subir e começar o ensaio na pequena sala nomeada "Rachmaninov hall"... também dá um frio na barriga...
Mas o sentimento que de longe é prioritario nesses dias é de felicidade, felicidade por ter alcançado mais uma etapa da minha vida musical. Acredito que merecida, mas também com muita ajuda da sorte que me acompanha sempre, e que espero não vire as costas muito cedo...
Obrigado por todos aqueles que sempre me apoiam e seguem minha carreira!!!
Emmanuele

terça-feira, 23 de março de 2010

O tempo...

... pode ser o amigo melhor de um homem, mas ao mesmo tempo e facilmente pode se tornar o pior inimigo. Pode ser muito, se bem utilizado, ou sempre insuficiente, se deixado rapidamente escapar.

Pensando na vida, no trabalho, quanto sabemos organizar, dividir, desfrutar as horas que temos durante um dia? Não podemos, especialmente em uma "missão" como é aquela do artista, deixar de dedicar horas e horas trabalhando e procurando cada vez mais no profundo de uma obra de arte, mas ao mesmo tempo não podemos sacrificar a familia, a esposa, os filhos, pois eles são nosso mundo e eles nos doam a felicidade mais plena, que ajuda também servir melhor a propria arte.

Sei que muitos dizem que o artista deve ser infeliz, que o artista não pode ser equilibrado, não pode ter uma vida regular; isso é um resultado e uma herança da velha bobeira "genio e sregolatezza", como se fosse impossivel ser feliz, racional, equilibrado, e ao mesmo tempo uma alma creativa, cheia de ideias... sinto muito, mas eu acho que uma pessoa profunda pode doar muito a propria arte sendo infeliz ou sendo profundamente feliz. O meio termo é que não funciona...

Então dedicar mais tempo aos filhos, ou a propria esposa, não significa tirar tempo da arte!!! Significa que descubrimos como aproveitar de cada minuto dedicado ao nosso estudo, e que descubrimos também, e sobre tudo, quanto enriquece a alma estar sentados em frente ao sorriso da pessoa amada.

Um corte de cabelo diferente...

... sei que não parece um argumento serio, porem garanto que ganhei meu dia com isso. Não lembrava mais como era cortar cabelo em um daqueles lugares simples, pequenos, geralmente com uma pessoa só trabalhando (quase sempre o dono, e quase sempre, não sei porqué, velho) e silencioso.
Nesses anos, me acostumei, na Italia como no Brasil, em lojas modernas, com atendentes, muitos funcionarios, horarios respeitados, enfim... perfeitos!!!
Porém...
Tinha esquecido da simples esperiencia de entrar em um lugar silencioso, com perfume de after-shave, com um idoso de oculos lendo o jornal esperando por mim, e finalmente, o corte. NÃO TINHA MUSICA!!! Ja isso seria suficiente para lembrar para sempre este lugar, nada que atrapalhasse o silencio e o discreto som das cesoras cortando, do respiro do desconhecido e do meu. Algum carro na rua passando, mas nada demais que podesse interferir nessa intimidade. A ausencia de musica de fundo me pareceu deixar reviver a musica verdadeira, aquela dos pequenos gestos. Lembrei-me muito de onde, as vezes com meu irmão Raffaele, eu ia cortar cabelo quando era criança, no bairro onde morava na Italia, e onde ainda meus pais moram...
Uma meia hora prazerosa, voando entre lembranças e sensações simples e velhas como o mundo.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Ultimos dias do hotel "Tropical da Bahia" - carta aberta aos funcionarios

Caros funcionarios do hotel "Tropical da Bahia",

em 2004, antes ainda de resolver me mudar para o Brasil, fiz uma viagem com aquela que atualmente é minha orquestra (OSESP, Orquestra Sinfónica do Estado de São Paulo). Nessa turné tive a oportunidade de conhecer quase todas as capitais do Brasil. Em Salvador, na minha primeira visita a cidade, fiquei no "Tropical da Bahia".

A partir do ano seguinte, já residente no Brasil, minhas viagens para Salvador foram ficando muito frequentes, e minha etapa fixa na cidade era o Tropical da Bahia. Tinha algo, nesse hotel que me deixava a vontade, quase me sentindo em casa, mas acoma de qualquer consideração sobre a estrutura, sobre a piscina e bla bla bla... acima de tudo isso, estava a simpatia, os sorrisos, a disponibilidade de voces. Lembro uma semana, acho em 2008, em que viajei 4 vezes em 6 dias entre Salvador e Aracajú, sempre chegando aqui de madrugada, e sempre acolhido pelo sorriso de voces.

Recebi' a noticia que essa seria minha ultima estadia no hotel, e que a partir do domingo dia 7, Salvador não terá mais o hotel "Tropical". Acreditem que fiquei triste e decepcionado, e sinto-me muito triste por voces também.

Inúmeras são as lembranças que deixo nesse predio, todas ligadas aos meus primeiros 5 anos no Brasil, e todas marcadas profundamente pelo sorriso e gentileza de voces. O carinho dos funcionarios de um hotel não está incluido na diária, é algo impagavel e algo que fica pra sempre na memória.

Desejo de coração uma boa sorte para todos voces, queria enviar um abraço a cada um, mas via internet posso somente dizer que vou lembra-los.

Obrigado.

Emmanuele Baldini