quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

COMPLETANDO O POST ANTERIOR...

... isso explica mais de mil palavras...

http://www.youtube.com/watch?v=co-9OHZOGQs&feature=grec

Simplicidade

Estava hoje escutando um famoso violinista da atualidade tocando o Concerto de Mendelssohn e algumas transcrições de canções feitas por ele mesmo. Violinista famoso: solista, camerista, escritor, organizador de eventos... nele se reúnem as caraterísticas todas do "moderno musico de sucesso": hoje é impossível chegar a uma notoriedade mundial ( e mante-la... ) sem ser extremamente experto no "management".
Voltamos ao violinista, e tentamos isolar o aspecto musical. Não precisaria dizer que, tecnicamente, eu estava ouvindo um instrumentista de primeira qualidade, pois isso na atualidade é uma "conditio-sine-qua-non" do sucesso; mas o que me impressionou, e o que me levou escrever essas poucas palavras, é a falta total de simplicidade; parece que para ser "musical", hoje, precisa jogar na cara de quem está ouvindo um exagero de vibrato, de barrigas nas notas, de contrastes que chegam enjoar. Tudo tem uma tendéncia ao exagero; ou temos "músicos" tão frios que não conseguem emocionar nem nas musicas mais meladas, ou temos quem sabe ser musical exagerando em tudo, e quase "impondo" a musicalidade dele, como se ele tentasse acordar os ouvintes para mostrar toda a profundeza da mensagem que ele tem dentro de si mesmo.
Veio-me na cabeça a nobre arte do David Oistrakh, do Leonid Kogan, do Arthuer Grumiaux, do Henryk Szeryng, e, para outros instrumentos, de Claudio Arrau, de Arthur Schnabel, de Clara Haskil, de Enrico Caruso, de Beniamino Gigli, de Pierre Fournier, de Toscanini, de Furtwaengler....
Quantas emoções eles deixaram no ar dos muitos teatros visitados, e quantas, até hoje, vivem na memória dos sortudos que tiveram a oportunidade de ouvi-los ao vivo; quantas lagrimas já desceram do meu rosto, ouvindo com concentração máxima as gravações que nos deixaram... Uma arte em extinção, feita de simplicidade, de elegancia, de refinamento... uma arte simples, humilde, que não precisa se mostrar mais do que já é.
Pensando nesses "grandes" do passado, não posso não perceber que o desafio mais difícil, hoje, é manter a simplicidade de um musico "amador", ou, manter aquele amor simples e verdadeiro pela musica que foi o responsável pelas minhas escolhas de vida anos e anos atrás...

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Missão

Voltando ao Brasil, estou dedicando esses primeiros dias de "choque térmico" (dos -7 de New York aos 32 de São Paulo) para preparar minha cabeça a enfrentar os próximos meses. As vezes, no meio de uma temporada, com muitos concertos com a orquestra, muitas viagens para tocar como solista ou em musica de câmara, aulas, esqueço-me da raiz de tudo: a verdadeira motivação do que estou fazendo. Mas quando o mundo da "produção musical" faz um intervalo, e quando um ser humano volta ter a possibilidade de PENSAR MAIS, volta em mim a sensação da minha missão, desse difícil papel de ser um "mensageiro" que tem o privilégio e a responsabilidade de levar para quem quer ouvir (e para quem SABE ouvir) as grandes obras de arte na musica. E para fazer isso com dignidade, para servir a musica com honestidade, humildade, conhecimento e profundidade, a dedicação tem que ser total, e não conhecer pausas, além daquelas da própria musica.
Hoje eu lí uma frase que define perfeitamente o sentido da minha missão:
"Di tutto il mio lavoro, l'atto per me più importante consiste nell'offrire a una comunità di voci ben educate all'armonizzarsi fra loro, un'ulteriore opportunità per “trarre” del nuovo da ciò che ci è rimasto della tradizione." - C. Ronco
Achei lindo, profundo e verdadeiro. Amo essas tres palavras quando podem existir juntas, é como se "estética", "metafísica" e "ética" se unissem em uma única voz, para sublimar a musica.
Abraços, Emm.