quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Simplicidade

Estava hoje escutando um famoso violinista da atualidade tocando o Concerto de Mendelssohn e algumas transcrições de canções feitas por ele mesmo. Violinista famoso: solista, camerista, escritor, organizador de eventos... nele se reúnem as caraterísticas todas do "moderno musico de sucesso": hoje é impossível chegar a uma notoriedade mundial ( e mante-la... ) sem ser extremamente experto no "management".
Voltamos ao violinista, e tentamos isolar o aspecto musical. Não precisaria dizer que, tecnicamente, eu estava ouvindo um instrumentista de primeira qualidade, pois isso na atualidade é uma "conditio-sine-qua-non" do sucesso; mas o que me impressionou, e o que me levou escrever essas poucas palavras, é a falta total de simplicidade; parece que para ser "musical", hoje, precisa jogar na cara de quem está ouvindo um exagero de vibrato, de barrigas nas notas, de contrastes que chegam enjoar. Tudo tem uma tendéncia ao exagero; ou temos "músicos" tão frios que não conseguem emocionar nem nas musicas mais meladas, ou temos quem sabe ser musical exagerando em tudo, e quase "impondo" a musicalidade dele, como se ele tentasse acordar os ouvintes para mostrar toda a profundeza da mensagem que ele tem dentro de si mesmo.
Veio-me na cabeça a nobre arte do David Oistrakh, do Leonid Kogan, do Arthuer Grumiaux, do Henryk Szeryng, e, para outros instrumentos, de Claudio Arrau, de Arthur Schnabel, de Clara Haskil, de Enrico Caruso, de Beniamino Gigli, de Pierre Fournier, de Toscanini, de Furtwaengler....
Quantas emoções eles deixaram no ar dos muitos teatros visitados, e quantas, até hoje, vivem na memória dos sortudos que tiveram a oportunidade de ouvi-los ao vivo; quantas lagrimas já desceram do meu rosto, ouvindo com concentração máxima as gravações que nos deixaram... Uma arte em extinção, feita de simplicidade, de elegancia, de refinamento... uma arte simples, humilde, que não precisa se mostrar mais do que já é.
Pensando nesses "grandes" do passado, não posso não perceber que o desafio mais difícil, hoje, é manter a simplicidade de um musico "amador", ou, manter aquele amor simples e verdadeiro pela musica que foi o responsável pelas minhas escolhas de vida anos e anos atrás...

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